sábado, 28 de janeiro de 2012

BRINCANDO DE ESCONDE-ESCONDE

Quem nunca brincou de esconde-esconde? É difícil encontrar alguém que nunca tenha brincado, ao menos uma vez, dessa brincadeira tão simples e ao mesmo tempo tão maravilhosa. Lembro-me que das vezes que eu brincava procurava o esconderijo mais oculto possível. A graça da brincadeira não estava no simplesmente estar escondido, mas, esconder-se para ser procurado. Sobretudo ser procurado. A constante tensão entre esconder e ser encontrado é que motiva àqueles que querem brincar de esconde-esconde.
Para mim era tão frustrante ser esquecido. Às vezes eu achava o lugar mais oculto possível. Tão oculto que ninguém me encontrava. E então... esqueceram de mim. E quando iriam começar uma nova rodada eu aparecia nervoso e chateado. Eu gostava de disputar corrida com quem me achava. Isso acontecia com freqüência, e não somente comigo, pois às vezes havia muitas crianças brincando. Isso me revelou algo: no fundo, todos nós gostamos de ser encontrados.                                         
                                                           
É no encontro que se dá toda relação, ainda que seja encontro virtual, se é que podemos dizer dessa forma. No esconde-esconde, o encontro, para além das regras da brincadeira, expressa a necessidade de reconhecer a existência e a importância do outro. Nas relações amorosas o esconder-se e encontrar-se revelam a necessidade ou o desejo de amar e ser amado.                
Deus também gosta de brincar de esconde-esconde. Até parece que ele já foi criança! Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein) disse: “Deus está sempre presente, mas escondido e calado”. Decerto que Ele se escondia não por capricho ou descaso, mas porque, sendo Ele o amante, também quer ser o amado.              
A procura por Deus, o nosso bem amado, é uma procura constante. Nessa procura, o amor não é somente o fim, mas também o meio. É procurando que manifesto o meu amor. Parece paradoxal dizer, mas o encontro também se dá na procura. Encontro incompleto, parcial, é verdade, mas o suficiente para encher-se de Deus. Contudo, permanece a expectativa do encontro definitivo com o Senhor, face a face. Será a última brincadeira de esconde-esconde. Até lá continuemos na nossa procura de Deus, na confiança de que o nosso Pai se deixa encontrar por aqueles que o procuram (cf. Jr 29, 13-14).
O nosso Deus se deixa encontrar. Em outras palavras, dependemos de sua Graça. Podemos procurá-lo, mas depende Dele que o encontro se dê. E nessa “brincadeira” com Deus, quando formos esconder-nos, peçamos a graça ao nosso Bem Amado de esconder-nos Nele.

Lauro da Silva Ferreira, nsm
(Noviço da Sociedade de Maria no Brasil, atualmente mora em Belo Horizonte e professará os primeiros votos religiosos no dia 04 de fevereiro de 2012).