Recebi, há algum tempo um cartão que ficou gravado na minha lembrança: em fundo escuro entre pedras e terra seca, que demonstrava ser um lugar ermo, sobressaía um pequeno arbusto repleto de vivas flores, as quais formavam um belo ramalhete. O pensamento escrito completava o quadro: “As flores oferecem sua beleza toda, mesmo onde ninguém as vê.”
Esse quadro nunca me disse nada a mais, ficou na memória porque pareceu-me interessante e, é claro, muito bonito… mas adormeceu na lembrança…
Percorrendo estradas, pastos e matas da Amazônia no desempenho da missão, encanta-me o fato de que, durante o ano inteiro, aqui e acolá, surgem flores, as mais variadas, exuberantes, grandes ou pequenas, multiformes e cheias de cores: nas árvores, arbustos, trepadeiras e cipós silvestres ou nos jardins das casas; às vezes escondidas, humildes entre outros arbustos ou rente ao chão, quase sem serem vistas e por isso mesmo, aparentemente sem importância…
O pensamento do cartão vinha-me muitas vezes à mente, apenas como uma lembrança entre tantas outras… Até que um dia, subindo o Rio Branco de barco, deixei-me levar pela magnitude da natureza: os muitos tons de verde da floresta; a amplidão das águas; o silêncio cortado pelo trinar dos pássaros e a presença de animais selvagens; a aragem fresca do rio; o calor do sol e… a singeleza das flores que apareciam ao longo das margens do rio.
De repente, um despertar naquele momento contemplativo de profunda intimidade com Deus e com a natureza: “As flores oferecem sua beleza toda, mesmo onde ninguém as vê”, soou-me como um convite, como um desafio; e foi tomando o corpo de um programa de vida: “Doar-me, oferecer-me toda, por inteiro, mesmo que ninguém me veja”…
Não será esta uma forma concreta de viver o “escondidas e como que desconhecidas” da nossa espiritualidade no cotidiano da missão?
Irª Maristela Maria, sm